20 novembro 2009

Uma cobertura fragmentada

Sabemos que a internet hoje se tornou um meio de comunicação essencial nas relações sociais. Não se trata simplesmente de uma tecnologia, e sim do meio de comunicação que constitui a forma organizativa da sociedade em torno de fluxos (Castells 1999). Foi neste espaço de fluxos que o caso Paula Oliveira repercutiu, através da publicação do relato do pai da brasileira no blog do jornalista Ricardo Noblat. No relato, o pai conta que a filha, que vivia na Suíça, teria sido atacada por neonazistas e por causa das agressões teria sofrido um aborto. A partir de então, o acontecimento foi amplamente divulgado tendo grande repercussão na mídia, pautando não só jornais como revistas e portais de notícias na internet dos mais variados gêneros.
Na busca incessante pelo furo, repórteres anteciparam-se e acabaram produzindo julgamentos públicos. Na televisão o Jornal Nacional e o Jornal da Globo deram destaque a notícia, na mídia impressa, revistas como Veja e Época publicaram reportagens extensas e na internet, podemos citar o G1, portal de notícias vinculado a Rede Globo. No portal o assunto gerou cerca de 15 matérias dentre atualizações e desdobramentos. Não havendo nenhuma evidência ou testemunha do suposto ataque descobriu-se em seguida que a história havia sido inventada pela brasileira, culminando em um desfecho inusitado.
No caso do portal os conteúdos foram fragmentados e não hierarquizados, de modo que as notícias foram publicadas por editorias como Mundo e Brasil, ou por assuntos, como Brasileiros no exterior e Caso da brasileira ferida na Suíça, perdendo a origem da informação. Desta forma, além de não ficar explícito o que deu início ao acontecimento na cobertura feita pelo portal, o leitor não conseguiu acompanhar o desenrolar passo a passo. A fragmentação acabou por descontextualizar o conteúdo na medida em que não houve uma preocupação em recuperar o acontecimento inicial, mas apenas em noticiar seus desdobramentos atuais. A simplificação e a descontextualização dos conteúdos, conforme Mar de Fontcuberta, professora de Comunicação social da Pontifícia Universidade Católica do Chile, compromete a compreensão do leitor.
A irrupção das novas tecnologias revolucionou radicalmente o modo tradicional de trabalho do jornalista, vivenciamos hoje a sociedade da informação, onde todo mundo se comunica através da rede. Ainda assim, questões como responsabilidade e ética deveriam estar sempre no centro das preocupações dos jornalistas na era da industrialização da informação. Seguindo as técnicas jornalísticas toda e qualquer informação transmitida por uma fonte deveria ser selecionada, checada e contextualizada. Não foi o que vimos na cobertura realizada pelo portal G1.

(Daiana de Oliveira Martins)

Texto produzido na disciplina de Crítica das Práticas Jornalísticas

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