19 outubro 2009

50 anos de telejornal em Portugal

Portugal está a comemorar 50 anos de telejornal. Trata-se do programa de mesmo nome, veiculado pela emissora pública RTP – Rádio Televisão Portugal. Numa promoção conjunta com o CECS - Centro de Estudos Comunicação e Sociedade, da Universidade do Minho, foi realizada a Conferência 50 Anos de Telejornal: entre o passado e o futuro, na Fundação das Comunicações, em Lisboa.
Por meio dos 50 anos de Telejornal, da RTP, é possível recontar a história do telejornalismo em Portugal, já que o período concorrencial se iniciou apenas nos anos 90, com a implantação dos canais privados SIC e TVI. Ainda, muitos dos jornalistas que estão a fazer jornalismo nos canais privados passaram pela ‘escola’ da RTP.
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O Telejornal e os estudos acadêmicos

Nilza de Sena (Inst. Sup. Ciências Políticas e Sociais), Maria Rosário Saraiva (Univ. do Porto), Felisbela Lopes (Univ. Minho), Rogério Santos (Católica Portguesa), Nuno Brandão (Inst. Sup. Novas Profissões) e Rui Cádima (Univ. Nova de Lisboa)
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A professora Maria Rosário Saraiva, da Universidade do Porto, divide a história do telejornaismo em Portugal em cinco fases: a Era Técnica (195-1959), de aprendizagem e domínio da técnica de produção televisiva; Era dos Realizadores (1959-974), quando ocorre a aposta na imagem e dá-se a introdução do videotipe; Era dos Jornalisas (1974-1980), quando impõe-se a cobertura jornalística e altera-se a função dos apresenadores dos telejornais; Era do Marketing (1992-2000), com a entrada das privadas, preocupação com a audiência, com fait-divers e a transparência da notícia; e a Era do Virtual (a partir de 2001).
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O telejornal a partir do lugar dos pivots (âncoras)

Judite de Sousa, Lopes de Araújo, José Carvalho (diretor de informação da RTP), Adelino Gomes (Provedor do Ouvinte da RTP), Maria Elisa e Manoel Caetano
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A mesa que tratou do lugar dos âncoras, o fez a partir de quatro ex-apresentadores do Telejornal, da RTP: Manoel Caetano, pivot no período do Estado Novo; Maria Elisa, período de 25 de abril; Lopes de Araújo, no período do monopólio em regime democrático; e Judite de Sousa, no período pós-privadas.
A primeira geração de apresentadores foi a dos locutores, responsáveis apenas pela gravação dos offs gerados sobre a imagens já escolhidas e os textos já formatados. Caetano, hoje com 83 anos, contou de sua trajetória, iniciada no rádio – teatro radiofônico e narração esportiva – “eu gostava de fazer reportagem em direto, mas na televisão isso ainda não havia sido inaugurado”, disse. Responsável pela apresentação do Telejornal durante a censura do Estado Novo, Caetano acrescenta: “fui locutor e, portanto, lia o quê os outros escreviam”.
Caetano apresentou o programa até a véspera do 25 de abril de 1974, quando foi substituído, entre outros, pela jornalista Maria Elisa. “Pensávamos que seria a liberdade, fim de censura, mas, continuamos a ouvir uma parte apenas”, disse. E acrescentou: “saímos do regime [Estado Novo], deixamos de ler notícias censuradas pelo Estado, mas, continuamos a ler notícias escritas por quem não nos ouvia”, disse referindo-se a não participação dos apresentadores na definição de pautas e produção de reportagens e texto. A mudança veio com a publicação no jornal Expresso de um documento, escrito por ela e outros jornalistas, conhecido como documento dos papagaios. “Queríamos mais participação na definição de temas e enquadramentos porque dávamos a cara àquilo que líamos”, finaliza.
Lopes de Araújo diz que a época dos jornalistas papagaios seguiu-se a do jornalismo televisivo interpretativo. Nesta época, já nos anos 80, o apresentador participava da reunião de pauta e alinhamento até as alterações finais. O trabalho altera-se com a entrada das TVs privadas, nos anos 90, e investimentos em tecnologia, que permitiram tratar com mais agilidade os grandes acontecimentos. Judite de Sousa, apresentadora na fase pós-privadas, relembrou dos primeiros acontecimentos internacionais com participação direta da RTP – as guerras da Angola, 1992; da Bósnia, 1995; e do Líbano, 1996; e a devolução de Macau, em 1999.
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Outros temas
A relação com a política e o cenário de mudança foram outros dois temas da Conferência 50 Anos de Telejornal. Da primeira participaram os assessores políticos de Ramalho Eanes, Mário Soares e Cavaco Silva, respectivamente, os jornalistas Joaquín Letria, Estrela Serrana e José Arrantes.
Da sessão 'O Telejornal um gênero televisivo em mudança' participaram José Alberto Carvalho, diretor de informação da RTP, Luís Marques, diretor geral da SIC, Júlio Magalhães, diretor de informação da TVI, sob coordenação de Paquete de Oliveira (Provedor do Telespectador da RTP) e comentários de Carlos Daniel (diretor-adjunto da RTPN). Desta, a comprovação da importância da RTP e de seu Telejornal na formação de quadros profissionais, uma vez que os diretores da TVI e SIC trabalharam, primeiro, na emissora pública.

 José Arrantes, Marcelo Rebelo de Sousa (Faculdade de Direito da Univ. de Lisboa), Estrela Serrana e Joaquín Letria

Júlio Magalhães, Carlos Daniel,  Paquete de Oliveira, Luís Marques e José Alberto Carvalho
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(Angela Zamin, de Lisboa)

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